quarta-feira, 25 de novembro de 2009

A Democracia e a Ética da Tolerância na Comunidade Global


Se considerarmos que os princípios democráticos tendem a aplicar-se ao planeta inteiro, temos que considerar que existe na intencionalidade democrática uma certa utopia, pois continuam a existir regimes nos quais ainda não se reconhecem, nem os princípios da democracia nem os princípios da tolerância. Um exemplo muito claro é aquele que se verifica nas tensões entre o governo Chinês e a província do Tibete. A perseguição desenfreada aos monges Tibetanos é um indício claro que nos permite compreender a falência dos valores democráticos que o governo Chinês teima em ignorar. Também se verifica a ausência da tolerância através do desrespeito pela vida dos monges. O exílio infligido ao Dalai Lama é também um sinónimo de intolerância, pois trata-se de uma personalidade que tem influência no mundo e que não é respeitada no seu próprio pais.


A noção de democracia também tem sido abalada por certas correntes ortodoxas, cujo grau de conservadorismo tem impedido a instauração dos valores democráticos até mesmo no seio dos próprios regimes democráticos. É o que acontece com uma certa ortodoxia católica que não permite a inovação das práticas sociais. Existe um conjunto de barreiras que tem contribuído para que a democracia enquanto regime liberal e aberto a liberdade do espírito, se possa impor de forma plena. Entre estas barreiras contam-se os costumes e as mentalidades que ainda estão imbuídas pelos valores não democráticos dos regimes totalitários, ou semi-totalitários, como aconteceu com o estado novo em Portugal. As gerações mais antigas que nunca abandonaram os ideais de teor fascinante, também constituem um obstáculo aos ideais democráticos.


Actualmente, em Portugal a democracia, seja na sua forma representativa, seja na sua forma participativa, implantou-se de uma forma que podemos considerar impulsiva e ambiciosa, sobretudo porque os sucessivos governos que foram instaurando esses princípios democráticos, não conseguiram incutir à mentalidade popular que a liberdade é sobretudo uma conquista individual, mesmo quando se trata de uma liberdade colectiva. O que aconteceu entre nós foi a instauração de um processo democrático que incutiu aos cidadãos a ideia de que a democracia pressupunha uma liberdade sem limites e sem regras, ideia que contém em si uma total ausência de ética. Essa liberdade "ilimitada" fez perigar a própria justiça, pois incutiu-lhe algumas fragilidades. Ainda hoje estamos a sofrer as consequências desse momento histórico (A conquista da democracia no 25 de Abril de 1974) que podemos considerar glorioso, embora não tivesse tomado as medidas necessárias para educar uma população que, na época, era pouco instruída devido ao peso de 48 anos de ditadura.


A democracia é um princípio que não se assimila de um ano para o outro, pois ela é a consequência de uma conquista que permite esse bem precioso que é a liberdade do espírito. Porém essa liberdade deve ser assumida por cada homem, pois ela é, mais do que uma conquista de teor político, é sobretudo uma conquista da consciência e é assim que o conceito deve ser entendido em primeiro lugar. É a partir desta noção que a democracia assume a sua dimensão ética, pois ela faz parte, não apenas dos valores mas também das atitudes.